terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Pesquisa e pensamento: o Brasil em pauta

Alberto Luiz Schneider
Uma das funções do pensamento intelectual de ponta é contestar – pela via da pesquisa empírica eçda reflexão teórica – as verdades estabelecidas.  Sob esse aspecto, o Brasil tem avançado não apenas nas Humanidades, mas em quase todas as áreas do conhecido. Avanços que, diga-se, não teriam sido possíveis sem a instalação de um sofisticado sistema de pós-graduação, com agências de financiamento, estruturas de pesquisa e bebates acadêmicos através de revistas especializadas, congressos e seminários. Os benefícios da produção e da circulação de conhecimento impactam várias áreas, inclusive no mercado editorial, pois a pós-graduação cada vez mais difundida é, ao mesmo tempo, geradora e consumidora de livros. Claro que existem problemas nesse campo, como a excessiva especialização, o hiper-produtivismo, em que o pesquisador, muitas vezes, preocupa-se mais com o currículo lattes do que com a efetiva criação intelectual, científica e filosófica.  
No campo da historigrafia tem havido enorme avanços teóricos e empíricos nos últimos anos, que têm forçado a revisão de uma série de imagens consagradas. De acordo com uma dessas imagens, no período colonial toda a produção estava voltada para o mercado interno. Hoje, vários estudiosos estão revendo essa perspectiva ao perceber que existia um mercado interno mais dinâmico do que convencionalmente se imagina. Na Revista Pesquisa FAPESP – edição 189, de novembro de 2011 – em artigo intitulado “Por mares sempre navegados”, Neldson Marcolin mostra como se construíram, no Brasil, grandes embarcações, que estavam entre as maiores do mundo.
Na mesma edição da revista, Márcio Ferrari, em “Amotinados do império”, resenha Revoltas, motins, revoluções, publicado pela Alameda Casa Editorial e organizado por Monica Duarte Dantas, professora do Instituto de Estudos Brasileiros, da USP, com a contribuição de especialistas de diferentes universidades brasileiras, de Norte a Sul do país. O livro contesta a visão tradicional, segundo a qual teria havido baixa participação popular na esfera pública e reduzida contestação política à ordem vigente. Os textos abordam uma série de revoltas, muitas delas contra os impostos ou os preços, como o Motim do Vintém (1880), no Rio de Janeiro. Movimentos já estudados, como a Confederação do Equador (1824), em Pernambuco; a Guerra dos Farrapos (1835-1845), no Rio Grande do Sul; ou a Guerra de Canudos (1896-1897), na Bahia, são rediscutidos. O estudo mostra como que certos conceitos, como a “liberdade”, têm significados muitos diferentes, a depender dos agentes socais e políticos.  

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