segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Censo de 2010: os números do Brasil

Alberto Luiz Schneider
Artigo originalmente publicado na Revista Real. Maio 2011
A nova safra de dados do IBGE revela a complexidade e a pluralidade do país, cuja população atinge 190,7 milhões de habitantes, o que significa o maior contingente populacional da América Latina, o segundo das Américas – apenas atrás dos Estados Unidos – e a quinta maior população do mundo.
Diversidade regional e étnica
Desse total, 91.051.646 habitantes se declararam brancos, o que equivale a 47,7% da população brasileira. Os brancos brasileiros somam mais do dobro de toda população da Argentina, o país onde o percentual de brancos é o maior das Américas.
Outros 99.697.545 de brasileiros apresentaram-se como pardos, pretos, amarelos e indígenas, o que representa 53,74% da população brasileira, logo a maioria da população do país. Esses quase cem milhões de brasileiros representam aproximadamente 16 vezes a população do Paraguai.
Os pardos são 43,1% ou 82,2 milhões de pessoas. Já os pretos são 7,61% ou 14,5 milhões de brasileiros. Na Bahia, as pessoas que se declaram pretas correspondem a 17,10%, ou 2.397.249 habitantes, o que representa, em termos percentuais, o maior contingente nacional de afro-descendentes.
Os amarelos, ou orientais, somam 1,09% ou 2,1 milhões de habitantes (concentrados sobretudo nos estados de São Paulo e do Paraná). Os indígenas são 0,4% da população e somam 817.900 habitantes. No Amazonas chegam a 168.680 moradores ou 4,84% da população do estado. Em termos percentuais, Roraima tem a maior fração indígena da federação: 11, 01% de sua população.
O Norte do Brasil – que corresponde, grosso modo, à Amazônia – possui proporcionalmente o maior número de pardos no país, com 66,88% de habitantes que assim se consideram. No Pará os que se declaram pardos chegam a 69,51% da população, a mais alta porcentagem do país.
Nas regiões Nordeste e Centro-Oeste, o número de pardos também supera o de brancos. Ao contrário do que ocorre no Sul do país, onde a percentagem de brancos atinge 78,47% dos habitantes. Em Santa Catarina os brancos chegam a 83,97%. No Sudeste, o número de brancos também supera o de pardos.
São Paulo apresenta a maior população do Brasil: 41.262.199 de habitantes. No estado vive o maior contingente absoluto de brancos: 26.371.709; de pardos: 12.010.079; e de amarelos: 558.354. Os habitantes de São Paulo correspondem a duas vezes e meia a população do Chile.
Ritmo do crescimento
O ritmo de crescimento da população brasileira é moderado e declinante. A explosão demográfica é coisa do passado, o que é uma boa notícia. O chamado bônus demográfico permitirá um aumento considerável da qualidade de vida, sobretudo se for acompanhado de políticas públicas adequadas.
No Sul, os índices de crescimento populacionais são baixíssimos. O Rio Grande do Sul é o estado que menos cresceu nos últimos dez anos, apenas 0,49% ao ano, bem abaixo da média nacional, de 1,17% ao ano. Em 2000 havia no estado 10.181.749 de habitantes, enquanto que em 2010 são 10.693.929.
No Norte do país acontece exatamente o contrário. Entre os recenseamentos de 2000 e 2010, a região apresentou um crescimento populacional de 2,09% ao ano, quase o dobro da média nacional. Nesse período, a população aumentou em 2.963.750 de moradores. Apesar do crescimento, a população da região ainda é relativamente pequena, apenas 15.864.454 de habitantes, ou 8,3% da população brasileira. Pequena sobretudo se levarmos em conta que o Norte corresponde a mais da metade do território nacional.
Evolução histórica
Em 1872 – antes da grande onda imigratória, quando o Brasil ainda era uma monarquia escravocrata – o país tinha 9,9 milhões de habitantes. Em 1900 – nos primórdios da industrialização, quando o país estava sob o domínio da oligarquia paulista – a população já chegava a 17,4 milhões. Em 1950 – o período democrático, com Getúlio Vargas eleito, quando se lutava pelo "petróleo é nosso" – a população brasileira já havia atingido 51,9 milhões. Em 1970 – tempo de rápido crescimento econômico, aprofundamento da desigualdade social, ditadura feroz e urbanização caótica – a população brasileira chegara a 91,1 milhões. Em 1990 – quando Fernando Collor de Mello, de triste memória, administrava o Brasil – éramos 146,9 milhões de habitantes. Em 2010 chegamos 190,1 milhões de habitantes.
As próximas décadas assistirão a um certo crescimento populacional, mas nada comparável com a intensidade verificada no século XX, quando a imigração estrangeira e a manutenção de altas taxas de natalidade, conjugadas à diminuição da mortalidade – em função da elevação das condições de vida – determinaram brutal crescimento populacional.
Para não se ufanar
Entre os brasileiros com mais de 15 anos de idade, 13.940.729 não sabem nem ler nem escrever, o que corresponde a 9,6% da população, um dos piores índices da América Latina. No Nordeste, o analfabetismo chega 19,1% da população. Já no Distrito Federal, é de apenas 3,5%. A realidade, possivelmente, seja pior do que os números sugerem. Os dados, porém, mostram modesta evolução. No senso de 2000, os analfabetos correspondiam a 13,6% da população brasileira. Nossos quase 14 milhões de analfabetos equivalem a 4 vezes a população do Uruguai, o país da América Latina que apresenta os melhores indicadores educacionais da região.
Demofobia
Num país que precisa melhorar dramaticamente a educação, o governo do estado de São Paulo – o mais rico do país – cortou um programa de bolsas que permitiam aos alunos da rede estadual cursar inglês (ou outras línguas) na rede privada. No ano passado, esse programa beneficiou 80,8 mil estudantes, informou a Folha de S. Paulo (25/04/11).
Os tucanos de alta plumagem mandam seus filhos estudar inglês no exterior. Londres por exemplo. Já os meninos pobres, cuja escola é ruim, agora não podem mais compartilhar aulas de inglês na rede privada, junto com a rapaziada mais bem aquinhoada. Para que gastar dinheiro com gente pobre, se "nunca vão precisar disso", parecem pensar os dirigentes paulistas. Há poucos dias, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, num acesso de admirável honestidade intelectual, afirmou que o PSDB perde tempo em disputar o "povão", pois deveria se concentrar nas classes médias. É uma opção legítima numa sociedade pluriclassista, aberta e democrática. Vota num ou noutro partido quem se sentir representado pela agremiação. No entanto, faria bem aos tucanos compreenderem o vocábulo demofobia. Segundo o Aurélio: "De demo + fobia =  temor patológico a multidão". De acordo com o Micaelis: "sf (demo+fobo+ia). Aversão, inimizade ao povo". Por que não inglês para o "povão"?

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